- Área: 8711 m²
- Ano: 2011
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Fotografias:Cristobal Palma
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Fabricantes: Byalvid, Quattro
Uma tarde Isamu Noguchi veio me visitar. Não havia nada no quarto (nem móveis, nem pintura). O chão estava coberto, de parede a parede, por uma esteira de fibra de coco. As janelas não tinham cortinas. Isamu Noguchi disse: "um sapato velho ficaria bonito neste quarto".
A encomenda de um parque cultural para as colinas de Valparaíso, entendido como um novo espaço de encontro e integração, coloca uma contradição fundamental quanto à vocação da ex-prisão: a reclusão hermética e inviolável de seu espaço. O problema arquitetônico central é justamente esta singularidade, e, se pudermos traduzi-lo em uma pergunta: como fazer do espaço de confinamento um espaço integrador (a composição não consiste em dar respostas, mas em quais perguntas fazer (...) trocar a responsabilidade de escolher pela responsabilidade de perguntar):
Reconhecendo quatro situações evidentes e significativas do lugar - transformadas em perguntas - se propõe, como resposta, uma série de operações, cada uma relativa a uma cota importante do projeto. Constrói-se esta relação fora das vontades do desenho, subjetivas e preconceituosas, para colocar a intenção fora de operação: se você se desconecta de seus sentidos, de ter algo a dizer, é muito diferente. Os benefícios aparecem apenas quando se tem a mente vazia.
+00.0 PLANO HORIZONTAL: liberando a superfície
Como transformar o cárcere denso em um espaço aberto, um parque
O terreno da ex-prisão parece um forte cercado entre as plataformas, contenções e cemitérios circundantes. Destacando e tirando proveito da condição singular da ex-prisão, que contava com a maior superfície plana horizontal de Valparaízo, propõe-se a retirada de todas as construções existentes que foram sendo construídas ao longo do tempo, mantendo-se apenas a galeria de detentos - pela sua imponência e solenidade - o antigo edifício de acesso e o antigo armazém de pólvora, que agora são colocados em evidência sobre este amplo plano. Esta área livre apresenta uma rede de jacarandás dispostos em uma trama de 3x3m - que formará um véu que filtrará a luz incidente no parque - além de uma grande explanada de gramado que acolherá as atividades de recreação e palmeiras que destacam os acesso principais. O parque é delimitado pelo muro perimetral e por um caminho.
+03.0 FECHAMENTO PERIMETRAL: corte horizontal no muro
Como transformar o fechamento penitenciário em um fechamento de resguardo.
Propõe-se um corte horizontal no muro perimetral a partir de uma cota importante para o projeto. A partir do ponto mais alto do muro perimetral se traça um novo horizonte que, em sua abstração, suprime todas as referências e simbolismos carcerários, transformando o fechamento penitenciário em um fechamento de resguardo. Eliminam-se os vestígios de corredores, guaritas de vigilância, escadas e grades, transformando o muro em uma construção abstrata, claramente material. Este novo horizonte, em sua relação com os níveis anteriores do terreno, cria diversas situações que mudam de fechamento recluso para abertura visual e espacial para as colinas e para o mar.
+04.0 SITUAÇÃO ENTRE CÓRREGOS: nova direção do passeio
Como construir uma relação entre o interior cercado e seus arredores abertos às colinas.
Os encontros deste novo horizonte com as encostas das colinas Cárcel proporcionam a possibilidade de um passeio natural que une os córregos vizinhos. Traça-se entre estes pontos uma nova linha, um passeio elevado que atravessa o parque e que é incorporado à rede de passeios existentes. Inicia-se uma nova relação com as colinas vizinhas e com a área de preservação histórica das colinas de Concepción e Alegre. Esta nova direção estabelece algo inédito no terreno, uma segunda estrutura que, em sua relação com a galeria de detentos, reordena o espaço e transforma o armazém de pólvora em seu novo centro.
+12.0 CONDIÇÃO GEOGRÁFICA: novo plano urbano cavaletes y elevação
Como construir um centro cultural de 8.500 m² no parque sem diminuir o solo público.
Para liberar a maior superfície de espaço público possível e manter o parque na totalidade do terreno, os programas fechados estão acima do nível do solo. Para que estes novas estruturas - herméticas e pesadas - cheguem ao solo de maneira leve e eficiente, propõe-se uma série de planos estruturais cujas superfícies - grande e pesadas, que abrigam os programas - descarregam suas cargas sobre apoios reduzidos e pontuais que se parecem com cavaletes. Estas estruturas abrigam os programas culturais nos níveis superiores e organizam o espaço público no térreo. Uma superfície urbana multiuso sobre a qual se localizam os programas culturais.
Estas quatro operações, através da multiplicação do espaço público e da relação de seus níveis, reorientam o espaço e propõem um lugar de integração para o parque, para o bairro e para as colinas.